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Opinião: o túmulo do Frevo

20/02/2018

Os paredões de som foram utilizados pelos blocos e também estavam presentes em quase todas as esquinas da Avenida São Sebastião (Foto: Reprodução/ YouTube)

Por Fernando Guerra

Se Vinícius de Moraes estivesse entre nós e fosse um defensor das legítimas expressões da musicalidade pernambucana de cunho carnavalesco, após assistir o Desfile das Virgens no domingo (18/2), certamente diria que a Avenida São Sebastião é o túmulo do Frevo.

A solicitação do Conselho Municipal de Cultura encaminhada e acolhida pelo Ministério Público e que passou a integrar o TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), exigindo que cada Trio Elétrico executasse um mínimo de 25% de frevo no repertório, foi a mesma coisa que “passar manteiga na venta de gato”.

Nenhum dos Trios que participaram de nosso carnaval e suas respectivas Bandas tocaram o ritmo pernambucano entre a Rua Malaquias Guerra e a Igreja de S. Sebastião, parte das mais importantes do trajeto do cortejo da folia, local onde se encontrava a cobertura jornalística do Correio do Agreste.

Imaginava-se que neste ano fosse possível reverter o desastre dos anos anteriores quando o carnaval da Bahia foi transplantado com malas e bagagens para Surubim. Mas, ao que parece, isso não se deu. E, como se não bastasse, em cima da queda veio o coice. O Bloco Soute trouxe uma inovação para a avenida. Sob o comando do DJ Gutto Ferreira esse Trio engrossou o caldo da descaracterização tocando ritmos de boate como Dance Music, Pancadão, etc. Um samba do crioulo doido.

Esse evento, chamado de Desfile das Virgens, prima pela falta de identidade cultural e, quando abre espaço para os chamados paredões de som, aí descemos vários degraus no rumo da imoralidade, com músicas de conteúdo sexual, beirando ao indecoroso, verdadeiro atentado aos padrões mínimos de civilidade.

Esses paredões de som deveriam merecer um tratamento de choque, ser banidos dessa festa e procurar outro espaço para a destilação dessa paupérrima musicalidade e letras absolutamente desprovidas de poesia. Interferem e desvirtuam todo o planejamento de se fazer uma festa típica de cunho essencialmente popular.

Como todos conhecemos, até hoje, nunca se promoveu no país, em tempo algum, um show de rock movido ao nosso autêntico baião. Cada macaco no seu galho.

Em nenhum dos melhores carnavais do país, como em Olinda, Recife, Salvador ou Rio de Janeiro se permite uma intervenção sonora no percurso dos cortejos carnavalescos. Aqui em Surubim é essa “zorra”, tudo pode. Chegou a hora de intervir, dar um freio de arrumação nessa bagunça.

Quem está de fora não percebe a complexidade de realizar um evento de grande porte como o Desfile das Virgens, com seus cacoetes de muitos anos, imprevistos como a ausência do Bloco 14 Bis pela irresponsabilidade do cantor André Marreta, criando uma lacuna no desfile, entre tantos outros detalhes que aparecem sucessivamente. Há, entretanto, uma clara percepção de que se pode melhorar desde que sejam corrigidas as falhas aqui relatadas.

As atrações de qualidade inferior aos anos passados quando vieram Alceu Valença, Elba Ramalho, Fafá de Belém, por exemplo, e que são indicações da Fundarpe, foram trocados por um Geraldinho Lins cuja identificação artística remete ao São João,  igualmente pesaram no conjunto do festejo.

Faz bem ressaltar a valorização dos nossos artistas, dos focos carnavalescos como Jucá Ferrado e Lagoa da Vaca, a criação dos novos polos de folia, aspectos que enriqueceram o nosso carnaval e que merecem uma avaliação à parte.

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