Conjuntura Política: açude público da Cabaceira foi loteado
19/03/2024Fernando F. Guerra
Construído em meados da década de 1930 e ampliado em 1937 pelo então prefeito de Surubim, Paulo Mota, o açude da Cabaceira foi o segundo manancial que se disponibilizou para o uso da população surubinense. Portanto, uma obra pública. O primeiro deles foi o açude de São José grande benfeitoria do Padre Ibiapina que por volta do ano de 1870, mobilizou os moradores da localidade, em sistema de mutirão, para construí-lo, sendo a mais antiga obra de infraestrutura hídrica de nosso município. Até a segunda metade do século passado ainda existia. E o que deveria ser preservado como importante marco da História de nossa cidade foi aterrado e invadido com o beneplácito do governo municipal.
Sem nenhuma explicação, neste momento, Surubim tem outro desses seus bens públicos e históricos, loteados e, conforme informações, com escrituras devidamente registradas. Trata-se do Açude da Cabaceira.
Cabe aos órgãos que defendem os interesses da população, desde a Câmara de Vereadores ao Ministério Público, mas, sobretudo à Prefeitura, sair em defesa dos bens maiores que pertencem por direito assegurado pelo uso, à população do município. Aqui se deve ressaltar o interesse da coletividade em contraposição aos interesses pessoais. Como exemplo, podemos citar uma estrada que passa por uma propriedade privada. O seu dono não pode dispor desse caminho ao ponto de interceptá-lo, fechar sua passagem. Esse nos parece o verdadeiro Direito, aquele que se sobrepõe ao mesquinho interesse que visa o lucro pessoal imediato.
Neste nosso caso, a ocupação do antigo leito do Açude da Cabaceira desmonta todo um projeto de construção de um Parque Público que se iniciou na administração do prefeito Humberto Barbosa.
No número 136 do jornal Correio do Agreste veiculado no dia 31 de maio de 2002, a manchete principal estampava que “Surubim terá Parque em lugar do Açude da Cabaceira”!
Essa área de lazer previa pista de cooper com 950 m de extensão, chuveiros, playground, equipamentos para exercícios físicos, espaço para eventos e um lago. Na primeira semana de maio daquele ano, foi iniciada a abertura de uma vala para drenagem do açude cortando a PE-90. E em seguida se deu início ao aterro que deveria utilizar cerca de seis mil caminhões de areia.
Somente na primeira etapa do projeto seriam investidos 150 mil reais oriundos da receita da própria prefeitura numa época que o salário mínimo era 200 reais. Hoje, com o salário sete vezes maior se poderia dizer que os investimentos da municipalidade devem ter sido superiores a um milhão de reais! Dinheiro que foi gasto para drenar o açude e aterrá-lo. Serviço feito, obras paradas, apareceram os donos.
Pergunta-se, como é que a municipalidade cedeu sem lutar todo esse espaço, onde se investiu tantos recursos públicos, para empresários cujos interesses em auferir lucros estão bem acima da transformação da cidade em local aprazível para seus habitantes?
Nosso espaço encontra-se aberto para que se manifestem o Ministério Público, a Câmara de Vereadores e a própria Prefeitura.
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