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Quinta-Feira, 21 de Novembro de 2024 07:58

Na data de hoje 200 anos atrás: Divisão Confederada é atacada em Couro Dantas, município de Riacho das Almas

30/09/2024

Continuamos com a publicação de textos do historiador Fernando Guerra extraídos do seu trabalho “O Agreste Setentrional e a Confederação do Equador”, na postagem de hoje, iremos falar sobre a passagem pelo povoado de Couro Dantas, no município de Riacho das Almas.

Dia 30 de setembro de 1824

Leito do Rio Capibaribe em foto registrada a partir da nova Couro Dantas no município de Riacho das Almas no dia 28 de setembro de 2024, observando-se a trajetória do rio formando um “S”. À sua margem direita existe uma formação granítica elevada de onde provavelmente se efetivou a emboscada que impôs perdas consideráveis aos confederados. Na parte superior da imagem vê-se a Barragem de Jucazinho à montante, com cerca de 11,3 % de sua capacidade de armazenamento d’água. (Foto: Robson Arruda)

Após dormirem em Bateria, na manhã do dia 30 “levantando o acampamento e posta a divisão em marcha não seguiu aquele método que era racional e prudente para proteção da divisão, porquanto logo depois da guarda avançada comandada pelo capitão Antônio Carneiro Machado Rios, marchou o estado maior e depois deste o batalhão em uma maneira confusa e desordenada”, descreve Frei Caneca em seu diário de viagem.

 “Chegando a divisão a Couro Danta, légua e meia de distância, esqueceram-se todos de ser aquele ponto em que, segundo avisos, o inimigo pretendia tirar a desforra do Limoeiro, e assim o satisfizemos com nosso estrago e perda”.

Na margem do Capibaribe, por onde deveriam prosseguir viagem, “o caminho era estreito, ficando um despenhadeiro para o rio, cuja descida além de ser íngreme e rápida estava coberta de arvoredo e à esquerda (margem direita do rio) corria um lombo de terra da altura de cinco braças (…) com umas trincheiras naturais de pedregulho e este trânsito teria de extensão bem suas trinta braças”.

A divisão em marcha não seguira o método que era racional e prudente para sua segurança precavendo-se contra grupos armados que iam adiante provocando emboscadas. O Frei Jerônimo de São José, o mesmo personagem que fora rechaçado em Limoeiro, reorganizou-se e atacou as forças liberais impondo-lhes perdas consideráveis em Couro Danta, hoje Couro Dantas, cuja margem esquerda do rio pertence ao município de Frei Miguelinho e sua margem direita ao município de Riacho das Almas.

 “A guarda avançada adiantara-se e quando foi querer deixar atrás o lugar do perigo, rompeu o fogo inimigo na frente, nos lados e no centro”. Nessa investida ficaram vários mortos entre os patriotas.

“João Cândido que por sua desgraça ia também desordenadamente diante da guarda avançada, recebeu uma descarga da trincheira da frente e caiu imediatamente morto, caindo também ferido o capitão Carneiro, com três tiros de chumbo e palanquetas, (1) sem poder se levantar. O governador ferido de chumbo e não podendo sustentar nas rédeas do cavalo espantado, caiu pela ribeira abaixo entre os inimigos que ocupados em dar descargas para cima não o viraram ou o reservaram para depois. João Soares Lisboa que ia igualmente depois do governador das armas, ao apear-se do cavalo para fugir do perigo foi ferido d’uma palanqueta no vazio direito que lhe ficou sobre o umbigo, com outra em um braço. Morreram logo um soldado e pouco depois o valente Manoel de Carvalho que caiu e foi dizendo: Adeus minha pátria! Saíram feridos vinte dos quais morreram depois alguns”.

“João Soares Lisboa uma das pessoas cuja falta era mais sensível, logo que foi ferido deu os mais claros indícios de não sobreviver a esse desastre; veio a morrer no dia seguinte trinta e duas a trinta e três horas depois de ferido. Português de nascimento era brasileiro por afeição. Decidiu-se pela liberdade do Brasil e por esta se dedicou a escrever o Correio do Rio de Janeiro único periódico do Rio dito pelos franceses. Pelo periódico da oposição pela sua decisão em favor da liberdade foi degredado para Buenos Aires e depois pela intriga dos Andrades ficou oito meses preso no Rio de Janeiro para ser degredado por oito anos, saindo da prisão pela dissolução da assembleia, por um perdão dado pelo Imperador e se passou a Pernambuco onde trabalhou quanto esteve em seu poder para sustentar a liberdade das províncias do Norte contra o despotismo do Rio de Janeiro. E para se entender melhor o plano da tirania escreveu O Desengano dos Brasileiros”.

Foi enterrado no último dia do mês de setembro no álveo do Capibaribe onde o manto das águas da represa do Jucazinho lhe cobre os restos mortais e lhe dão o sossego da eternidade.

Após essa “primeira perturbação e muitas desgraças deitaram-se linhas pelo rio e ribanceiras e batendo-os ainda se mataram alguns calhambolas”. (2)

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1-Palanquetas eram projéteis compostos por duas esferas ligadas por uma corrente ou barra de ferro.

2-Calhambola era uma denominação usada para os escravos fugidos e que passou a ser atribuído de forma pejorativa para designar os que emboscavam as forças confederadas.

Acompanhe mais detalhes neste vídeo produzido por Robson Arruda com locução de Alan Lucena.

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