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Sábado, 12 de Outubro de 2024 01:33

Confederação do equador: as Forças Liberais seguem rumo ao Norte

09/10/2024

Encerramos hoje a publicação de textos do historiador Fernando Guerra extraídos do seu trabalho “O Agreste Setentrional e a Confederação do Equador”. Leia o texto final.

Resumo

As forças liberais abandonam o caminho do Capibaribe e se dirigem para o Norte com a firme decisão de juntar-se às forças comandadas pelo lendário general José Pereira Figueiras que na província do Ceará integrara-se na luta contra o poder despótico e absolutista do imperador D. Pedro I.

Atravessaram a Paraíba e o Rio Grande do Norte, enfrentando as maiores adversidades, fome, sede, veredas intransitáveis, caatingas adensadas, fazenda a fazenda, sempre fustigadas por ataques inesperados de guerrilheiros aos quais apelidavam de calhambolas.

Desde o dia 5, receberam notícias sobre o general Filgueiras informando que sua guarda avançada havia sido batida pelas forças imperiais do Rio do Peixe, contabilizando-se perdas superiores a 100 homens.

No dia 14 receberam ofício de Filgueiras; em 22, na fazenda Cajus Novos “encontraram o campo, casa e curral cheios de cadáveres que se avaliaram em 150” que eram da guarda avançada de Filgueiras.

A 24 tiveram um alento, pois souberam que ele se encontrava no “Mariz” com um grande contingente militar. No dia 26 souberam notícias aterradoras sobre ele.

Finalmente, antes do término do mês de outubro adentraram pelo território da província do Ceará. Entretanto, as más notícias chegavam uma a uma. O presidente da Confederação do Equador dessa província, Tristão Gonçalves Alencar de Araripe, no dia 31 de outubro foi trucidado nas ribeiras do rio Jaguaribe. Enquanto isso o general José Filgueiras entregou-se no dia 8 de novembro.

Diante de tudo, a causa de tanto esforço das tropas vindas de Pernambuco diluiu-se, perdera seu sentido, e o desânimo batera às portas dos confederados.

Estávamos destinados a levantar pela manhã de 29 o acampamento e seguirmos à vila de Missão Velha e de lá continuarmos para o Crato a batermos uma grande tropa (…) que tinha levantado a bandeira de Portugal deitando abaixo o estandarte brasileiro quando às quatro da tarde observou-se na retaguarda (…) aparecer uma multidão de gente a pé e a cavalo que supusemos inimigo. (…) os nossos batalhões se foram logo pondo em atitude de combate (…) quando levantando eles uma bandeira parlamentar mandou-se cessar todas as manobras (…). Um ofício do major Lamenha convidando-nos a capitular (…) assegurando que voltaríamos com ele como irmãos e amigos ao seio de nossas famílias. (…) Este lisonjeiro ofício iludiu a maior parte da oficialidade e tropa que se rendeu pensando sincera aquela persuasão dolosa e assentaram em capitular e voltar para Pernambuco”. Após ludibriar os combatentes republicanos “tratou imediatamente o Lamenha de mandar conduzir a todos os oficiais e mais pessoas de consideração e os eclesiásticos que ali se achavam, debaixo de prisão à vila de Lavras”.

A morte de Frei Caneca

 A partir desse momento, em retorno da província do Ceará, dá-se início ao Calvário de Frei Caneca rumo ao seu sacrifício final.

Já em Recife, “de 26 de dezembro por diante, Frei Joaquim do Amor Divino Caneca foi retirado da horrível prisão dos cabeças e passado para um quarto de cima na sala livre, onde ficou incomunicável até 10 de janeiro quando foi levado dali para ouvir sua crudelíssima sentença de morte ”.

Julgamento sumário de Frei Caneca. Detalhe de pintura (estudos) de Antônio Parreiras, 1918 (Museu Antônio Parreiras/Niterói, RJ)    

Fora escolhido entre os presos o pardo Agostinho Vieira para ser carrasco, mas este recusou-se a cumprir essa determinação em decorrência do “caráter sacerdotal” do Frei Joaquim do Amor Divino Caneca. Nesse momento o carcereiro fez adentrarem ao cárcere soldados armados para o obrigarem a enforcar a vítima, mas mesmo assim ele manteve-se irredutível “apesar de lhe pisarem os peitos com os coices das granadeiras, deixando-o por morto; e repetia ele que o matassem, mas que tal desumanidade não cometeria! ”  

“Dois homens pretos, que antes haviam sido na cadeia postos a ferro para assim os forçarem a ser algozes do condenado patriota religioso, sendo levados para junto da forca e daí tocados a coices d’armas, espaldeirados, nem por isso abateram-se à vileza, a que os queriam violentar. Então a Comissão Militar que havia ficado em sessão permanente, avisada desse embaraço ordenou que fosse o religioso fuzilado”.

“O crioulo João da Costa Palma, sendo um dos soldados da patrulha e que bem conhecia a vítima em meio do caminho foi derrubado por uma síncope. Marcharam os outros soldados e mataram o mártir a tiros de espingardas” no dia 13 de janeiro de 1825, na sua terra, diante de seu povo.

Pernambuco é um solo sagrado pois construiu sua História com o sangue de seus mártires, com sua independência do jugo holandês, com suas revoluções libertárias.

Surubim tanto quanto os municípios de Limoeiro, Salgadinho, João Alfredo, Riacho das Almas, Cumaru e Frei Miguelinho que compartilham a ribeira do Capibaribe, assim como Taquaritinga, poderiam assinalar com algum marco comemorativo esse breve, mas significativo momento, em que Frei Caneca e as tropas da DIVISÃO CONSTITUCIONAL DA CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR atravessaram seus caminhos desfraldando a bandeira da República.

 No entanto, nada disso foi realizado. Os prefeitos desses municípios e suas respectivas secretarias de educação, ignoraram inteiramente uma das páginas mais importantes da História de Pernambuco.

Em Surubim, salvou-nos desse vexame a iniciativa do artista plástico e professor Severino Iabá. Ele, mesmo morando em Minas Gerais, mobilizou Mareval Nascimento, Mestre Joel Severino e alguns moradores das proximidades da Casa Grande da Fazenda Cachoeira do Taépe, distando uns poucos quilômetros do Capibaribe, para erigir no local uma escultura do Frei Caneca. Esse monumento de cinco metros de altura e de um de circunferência, em concreto armado, teve seu início no dia 29 de setembro e sua conclusão está prevista para o dia 13 de janeiro de 2025, data em que Frei Caneca foi morto em Recife.

 

 

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