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Quinta-Feira, 6 de Março de 2025 07:32

Conjuntura Política: os passarinhos precisam das árvores

27/02/2025

Após contínuas mutilações essa algarobeira ao lado dos Correios encontra-se inteiramente desfigurada (Foto: Fernando Guerra)

A pandemia nos levou os amigos. Alguns se foram para sempre, outros se aquietaram em suas casas, acostumaram-se ao isolamento. Dessa forma ficamos mais solitários, agarramo-nos à família, aos bichos que passaram a ser chamados de pets, mais um neologismo que o império do faz de contas nos impôs.

Lembro aqui o diálogo entre Ariano Suassuna e uma senhora que lhe dirigiu uma pergunta-resposta nos seguintes termos: o senhor naturalmente conhece a Disney. Risível. E agora com um pateta narcisista com poderes imperiais, querendo mandar em tudo, vai dar certo. Quero ver quando é que os súditos irão entender que sem identidade não teremos futuro, não teremos pátria.

Mas vamos falar da vida, da natureza. Das árvores. Dos pássaros nas cidades.

Algum tempo que estive no Rio admirava rolinhas vermelhas, daquelas que eram alvo preferido dos nossos caçadores, sendo alimentadas nas janelas de edifícios no Bairro das Laranjeiras, mansas, num convívio sem conflitos. Há meses atrás, já em Salvador, observei comportamento semelhante com as maritacas que, ruidosamente, nas janelas do apartamento do amigo João Araújo, morador do 14º andar de prédio nas Graças, comiam frutas que ali lhe colocavam diariamente. São ornamentos vivazes que tornam nossas áreas urbanas mais humanas. Imaginem, criar pássaros soltos ao alcance dos nossos olhos! Eles nos acalmam e semeiam a quietude da natureza e, quem sabe, nos aproximam de Deus. Mas, algo nos deixa apreensivos. As pessoas continuam cortando as árvores urbanas. Sem árvores nossas aves desaparecerão e ficará apenas a aridez das edificações frias, insensíveis, embotando nossos espíritos.

O Poder Municipal tem que estar mais atento e coibir as podações drásticas que estão ocorrendo em nossa cidade e, sobretudo, servir de exemplo.

 A Neoenergia, a companhia de eletricidade que nos atende é a principal responsável pelas aberrações, pelos crimes que se cometem contra as árvores urbanas, e aproveitando o jargão de conhecido jornalista, uma vergonha! Essa empresa já, há muito tempo, deveria ter encontrado soluções para que os fios atravessassem a copa das árvores em segurança, sem a necessidade de mutilá-las.

Por outro lado, as pessoas deveriam ser penalizadas por algum tipo de multa caso cortassem árvores nas calçadas ou em qualquer local público.

O nosso Ministério Público poderia entrar em ação. Deu-nos um exemplo há pouco, quando proibiu o espocar de rojões no período das festividades de São Sebastião. Um verdadeiro alívio para nossos animais de estimação que, para muita gente, transformaram-se em membros da família. Um passo rumo à civilidade!

Enquanto isso, após pendurar bebedouros para beija-flores no portal de nossa casa, ao lado de alguns jarros com plantas, tivemos a surpresa de receber dezenas dessas criaturas, joias esvoaçantes que nos visitam às dezenas diariamente. Até quando? Até quando e onde o poder da especulação imobiliária, a insensibilidade e o desrespeito à natureza continuarão a estender seus tentáculos e sufocarão as manifestações mais genuínas do Criador?

Temos a sensação que nossos amigos estão voltando, transfigurados nessas pequenas aves. Alguns criam mais coragem, adentram em nossa sala e, rápidos, retornam à liberdade.

 

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